quinta-feira, 6 de setembro de 2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

menino colorido


Para Saulo, que sempre coloria minhas tardes de sexta-feira

Seus passos largos, sempre que passava na rua sentava-me na janelinha da varanda de casa, com papel e caneta, e observava. Todos os dias era o mesmo caminho. Passava pela rua dos mouros, descia a pracinha, o cemitério e o atelier de dona Flor. Seus cachos, castanho claro, caíam sob seus óculos verde e vermelho. Gostava de suas cores. Sempre com uma cor diferente, em cada parte do corpo.
Certa vez, passou com uma blusa lilás, a calça amarelinha – clara – o tênis, quadriculado, com muitas cores. Mas o que mais me intrigava, eram seus olhos – escuros. Quando passava pelo atelier da dona Flor, o perdia de vista. E logo mainha chamava para ajudar na casa. N’outro dia, às 17 horas, sempre às 17 horas, estava lá, de passos largos, passando por minha janela. E eu sentava. E observava...
 Uma tarde, com seus passos mais pesados, corri para ver quais tonalidades ele usava, quais misturas teria feito. Qual cor pesaria seus passos. Mas quando me aproximei da janela, o susto. Seu tênis era cinza. Sua calça era cinza. Sua blusa era cinza. Apenas seus óculos continuavam verde e vermelho.
 Assustei-me. Havia anos que o observava. Nunca, nem um dia sequer usou roupas que não fossem coloridas.
 Estava decidida. Vou segui-lo! Nem avisei a mainha, e saí caminhando atrás dele. Seus passos pesados pareciam mais rápidos. Pareciam ter pressa. Pareciam não pensar o caminho, como já guiados, acostumados com o caminho por tantos anos percorridos, desfilando as cores que essa cidadezinha não tinha.
 Corria para seguir seus passos. Para matar minha curiosidade de observadora, sempre tão fiel a seus passos. Às suas cores.
Descemos a rua dos mouros, a pracinha, o cemitério e o atelier de dona Flor. Era uma rua sem saída. Havia um portão, preto, de ferro. Um largo barulho se fez, ele abriu o portão, tirou uma arma, sentou no asfalto, já frio do anoitecer, e com um tiro na cabeça, padeceu sob o asfalto – com os olhos coloridos.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

antes de dormir...


fios de pensamentos sobre os cachos

pensamentos de ti.

e tudo que resta é espaço

entre um tempo inesgotável.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

verso para a tardinha


me apaixonei pela palavra.

mal dita, quase sussurrada...

entre versos espumados

de uma tarde

i n f i n i t a.

terça-feira, 3 de julho de 2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012

solistência

para Carol, Guto, Pri,  Mari, Jó, Ezequiel, Lis e todos aqueles que prometi palavras...




"All the lonely people, where do they all come from?
All the lonely people,  where do they all belong?"
the beatles

Quando cheguei por aqui... nada entendi! Suas ruas [cruas]. Seu movimento. Sentimento primeiro: todas as pessoas solitárias habitam esta cidade! Definiria Santiago em uma palavra: soledad. 
Um caminhar solitário, retilíneo, frio e sua economia "exemplar". Contraditória... silenciosamente surda. Ai que saudade eu sinto da Bahia... e seu riso largo, sua cor. Seu excesso. 
Tenho medo de me tornar demasiadamente: calada.
A exuberância imponente de suas cordilheiras invadem e esfriam as ruas e se confunde com sua personalidade. Olhos secos: poeira.

Penso em Guimarães Rosa...

"Eu estou só.
 O gato está só.
 As árvores estão sós.
 Mas não o só da solidão: o só da solistência"

Penso: reinvento-me.
E tudo é saudade!